Campus Machado promove VIII Semana da Consciência Negra com reflexões sobre escravidão moderna, desfile, roda de capoeira e exposição de trabalhos
O IFSULDEMINAS - Campus Machado, por meio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), realizou a VIII Semana da Consciência Negra, destacando a importância do dia 20 de novembro. As atividades começaram na terça-feira (19), às 13h, com um debate sobre o tema “Racismo e escravidão no sul de Minas: do passado ao presente” e o lançamento do livro “Sul de Minas: prosa e café – convivência, prosa e cultura”. A ação teve apoio das seções sindicais de Machado e Muzambinho do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe).
O debate contou com a participação dos pesquisadores Ana Rute do Vale e Glaucione Raimundo, da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), Tarcísio de Souza Gaspar, do Campus Muzambinho, e Isaac Cassemiro Ribeiro, do Campus Machado. Também participou Elisabete Vitor da Costa, safrista e integrante da Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (ADERE), reconhecida internacionalmente por sua luta contra o trabalho análogo à escravidão na região. A mediação ficou por conta da professora Lúcia Helena da Silva.
Lúcia relata que, a cada ano, o Neabi tem conseguido alcançar um número maior de pessoas da comunidade acadêmica por meio de palestras, filmes, debates e apresentações culturais, como forma de valorização e ensino da cultura afro-brasileira, conforme determina a Lei 10.639/2003. “Estamos muito honrados e felizes com a programação deste ano e sinceramente agradecidos à Direção-Geral, Direção de Ensino e Direção de Extensão por nos apoiarem e facultarem os meios para a realização dos eventos”, disse.
No total cerca de 240 pessoas, entre estudantes e professores, acompanharam o evento no Espaço Sociocultural do campus. Durante as discussões, um dos pontos destacados foi o fato de que o sul de Minas Gerais lidera o ranking de casos de trabalho escravo no Brasil, um problema pouco divulgado pela grande mídia. Segundo os debatedores, muitos trabalhadores não percebem que estão sendo explorados e, quando percebem, enfrentam dificuldades para sair dessa situação devido à complexidade do problema.
Reflexões sobre racismo e resistência
Os participantes discutiram a conexão histórica entre a escravidão no sul de Minas e a luta do povo negro, abordando como o racismo está presente em diversos espaços, inclusive no ambiente rural, onde é comum o trabalho precário na produção de café. Segundo os debatedores, trazer esses dados e vivências para o debate é uma forma de resistência e uma oportunidade de desenvolver um olhar crítico nos estudantes.
O professor Douglas Adriano Mendonça Rodrigues, recém-chegado ao Campus Machado, enfatizou a urgência do tema: “Vale ressaltar a importância de debater a temática não somente no mês de novembro, mas que possamos construir essa educação antirracista no dia a dia, no cotidiano da sala de aula e em todas as disciplinas ”.
Elizabete Vitor gostou bastante de poder participar do debate, pois desconhece, na história do sul de Minas, uma lavradora/safrista que tenha tido voz e vez em um espaço como esse. “Vejo que é uma transformação social!”, comentou. Ela pôde falar sobre a escravidão moderna, como a falta de direitos para as mulheres do campo e da cidade. “Quero reforçar a fala de todos os organizadores e agradecer a oportunidade de ter participado, porque só a educação poderá transformar!”
Para a pesquisadora Glaucione Raimundo, o evento proporcionou muitas reflexões sobre a escravidão e possiveis soluções que assegurem as vitimas dessa crueldade, com uma vida digna e um trabalho decente. Ana Rute, também pesquisadora, destaca que o evento foi muito importante para debater sobre a manutenção das condições precárias, da escravização do trabalho no agronegócio do café e como o racismo estrutural ainda assola a sociedade brasileira.
O professor Isaac Ribeiro lembrou que, historicamente, 50% da população de Machado era formada por pessoas escravizadas e apontou que o trabalho escravo contemporâneo se manifesta de diferentes formas, configurando um problema estrutural. Isaac ainda destacou que o debate foi de altíssima qualidade. “Contou com importantes reflexões e relatos sobre o vínculo entre o racismo estrutural e a super exploração do trabalho”.
Para o professor do Campus Muzambinho, Tarcísio de Souza Gaspar, o evento foi um importante espaço para o conhecimento da história do sudoeste mineiro sobre a presença e a luta da população negra na região sul-mineira e seus desafios no trabalho rural.
Sobre o livro
A obra “Sul de Minas: prosa e café – convivência, prosa e cultura” foi organizada pelos pesquisadores Ricardo Luiz de Souza e Cláudio Umpierre Carlan (Unifal-MG) e Pedro Paulo Abreu Funari (Unicamp). Ela reúne contribuições que discutem as dinâmicas culturais e sociais da região, ampliando o entendimento sobre a formação histórica e os desafios enfrentados no sul de Minas.
Ações no dia 20 de novembro
Vinte de novembro foi dia letivo no campus. A programação teve início com uma roda de capoeira no Ginásio Esportivo. Cerca de 60 alunos assistiram às apresentações, e 20 participaram das atividades. A Congada Mirim da Escola Estadual Paulino Rigotti de Castro desfilou pela rua principal do campus, do Poliesportivo à Biblioteca. O almoço servido no refeitório foi preparado pelo professor e chef Vanderley Almeida, que apresentou receitas afro-brasileiras, tendo como prato principal o bobó de frango.
Dia Letivo na Praça
A Semana encerrou-se no sábado (23), com o Dia Letivo na Praça, a partir das 8h. A programação contou com a exposição de trabalhos dos alunos dos cursos técnicos e superiores, abordando temas como: Diversidade e Inclusão nas Empresas, IA, Tecnologia e Racismo, Personalidades Negras na Música, Mês da Consciência Negra e a divulgação do livro Sul de Minas: Café, Convívio e Leitura.
Os estudantes Amanda Dias e Gabriel Luz, do 2º período de Sistemas de Informação, apresentaram um trabalho sobre Racismo Algorítmico. Amanda explicou que esse tipo de racismo ocorre “quando algoritmos (sequências de instruções) usados em softwares e sistemas reproduzem e amplificam preconceitos raciais presentes na sociedade”. Ela comentou que isso acontece porque os dados utilizados para treinar esses algoritmos frequentemente refletem desigualdades históricas e sociais.
De acordo com a professora Lúcia, cerca de 80 pessoas registraram presença na exposição. “O NEABI vem se fortalecendo e se firmando como um importante espaço de discussões e reflexões sobre o racismo, a cultura preta e os desafios no campo educacional relacionados a essa pauta desde 2017”, relatou Lúcia.
Texto: Ascom - Campus Machado com informações da professora Lúcia Helena da Silva
Fotos: Ascom - Campus Machado e divulgação
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